O artista Português homenageado no vigésimo AMADORABD 2009 foi Santiagu. Um jovem que rapidamente se impôs como um dos traços mais agudos no escalpelizar personalidades, seres que se destacam na humanidade.
Há traços que nos unem, há bissectrizes que nos estrangulam, há paralelas que nunca nos encontram. Linhas, traços, pontos e exclamações constroem a nossa vida de interrogações, quais tragédias de rugas, quais comédias no espelho das vaidades. Exageramos para sobreviver, porque nada mais mortífero que o silêncio de um gráfico, que o descampado branco de uma página.
De exageros vive António dos Santos e, não são exuberâncias dizer que estamos perante um dos mais importantes e interessantes caricaturistas nacionais da actualidade que, para não sofrer as penas do inferno pelos seus abastamentos, se rebaptizou Santiagu.
Será um exagero dizer que o conheço desde a sua infância etária, mas posso dizer que o conheço desde a sua adolescência estética, e o vi conquistar a maioridade. Tenho acompanhado o seu crescimento omnipotente, tenho sido subjugado pelo seu talento, pela sua originalidade, pela sua irreverência em ir sempre mais além na ousadia estética, no “caricare”, no captar novos traços, novas bissectrizes, novas paralelas que se cruzem neste espelho de abastanças sem vergonha, que são as vaidades.
Com Santiagu, as páginas brancas da monotonia ganham vida, numa constante labuta pedagógica de ver o mundo pelo lado do sorriso. Como professor, como pedagogo que é, sabe que só através da irreverência (com respeito pelos outros), do humor, da aceitação de como e quem somos, de como são e de como são os outros podemos olhar o futuro com optimismo e esperança. Não há progresso sem a liberdade de expressão, sem a liberdade do sorriso de pensamento.
Talvez alguns possam achar que ele é exagerado nas suas “charges”, nas suas ironias filosóficas, nos seus retratos… Não é defeito, é feitio. Não é cirurgião plástico, é descobridor de máscaras. Em traços, pontas e linhas ele chama-nos a atenção de algo para além do evidente. Só assim se pode passar para além do espelho politicamente correcto, do fotomaton em pose estática e amorfa. No seu trabalho há exuberâncias, repuxando a linha aqui, o traço ali, o ponto da identidade no âmago da alma, os esgares do identificável, as rugas da sabedoria do tempo, o “brilhozinho nos olhos” da ironia, realidades da vida para além das aparências. A nossa vida é uma tragédia, a dos outros uma comédia e, no grande palco do universo, não passamos de um “ponto”.
Santiagu é um exagerado, é um artista pedagogo, é um traço primaveril no grotesco do nosso contentamento.
Osvaldo Macedo de Sousa (Humorgrafe)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário